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A triste morte de Michael Jackson levantou uma questão que muito instiga a todos: o que levava o astro do pop a querer se transformar fisicamente?
Segundo a dermatologista e conselheira da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-SP), Dra. Luciana Conrado, é muito provável que Jackson sofria de um transtorno de personalidade chamado “transtorno dismórfico corporal”, mais conhecido como dismorfofobia, caracterizado pela preocupação exagerada com defeitos mínimos ou inexistentes na face e no corpo.
Essas preocupações causam interferências no cotidiano dos pacientes (vida social, trabalho, família).
Segundo estudo realizado pela médica, esse transtorno é relativamente comum na população geral (em torno de 2%) e a prevalência em pacientes dermatológicos e de cirurgia plástica de 7 a 15%.
O transtorno envolve uma percepção distorcida da imagem corporal. Assim, um defeito mínimo, é percebido como algo enorme.
No caso de Michael Jackson, por exemplo, ele parecia ter uma nítida obsessão em mudar suas feições, como o nariz, queixo, sobrancelhas e cabelos e talvez em tornar-se branco (embora não possa ser afastada a hipótese divulgada de que sofria de vitiligo).
Para desenvolver sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Medicina da USP, a Dra. Luciana Conrado acompanhou 350 pessoas e viu que cerca de 10% tinham o transtorno.
Destas, 60% já haviam se submetido a algum tratamento estético. A maioria ficou insatisfeita com o resultado.
"Esses pacientes procuram várias vezes o mesmo médico ou passam por diferentes profissionais (conhecido nos EUA como “doctor shopping”) submetendo-se a diversos procedimentos. Estão sempre insatisfeitos com os resultados obtidos mesmo que do ponto de vista do médico, o resultado seja considerado de sucesso.”
Ela afirma que os médicos devem ficar atentos para esses casos.
“É importante compreender que este transtorno é considerado um “transtorno secreto”, pois os pacientes têm dificuldades para falar sobre suas queixas com os profissionais de saúde e se sentem envergonhados e receosos de que suas queixas sejam interpretadas como “vaidade”.
“Existe um forte componente psíquico atuando na busca da melhora da imagem, principalmente considerando as necessidades de consumo criadas pela indústria da beleza e da busca da perfeição estética. Existe um limite muito tênue que separa o uso da cosmiatria/estética para a promoção de saúde e bem-estar, e o uso deste conhecimento em favor da busca desenfreada, sem limites e fora da realidade de suposta perfeição estética. Cabe ao dermatologista estar atento para identificar estes limites e usar de bom senso na orientação destes pacientes”.
Segundo a dermatologista, a maioria dos pacientes apresenta prejuízo nos relacionamentos interpessoais e profissionais.
“Como resultado de suas queixas obsessivas com a aparência, os pacientes podem desenvolver comportamentos compulsivos, em casos mais graves há risco de suicídio. Além disso, frequentemente procuram tratamentos cosméticos para um transtorno psíquico", explica a médica.
Para a médica, é considerada alta a prevalência do Transtorno Dismórfico Corporal em pacientes dermatológicos o que torna fundamental o treinamento dos profissionais para a investigação sistemática, diagnóstico e encaminhamento para tratamento psiquiátrico.