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Estamos próximos ao 3º milênio e essa transição é marcada pelos grandes desafios que chegam até nós. Tais desafios são de toda ordem, contudo possuem um núcleo comum – o resgate da dimensão do sagrado.
Pensar Espiritualidade e Sexualidade, em princípio pode parecer difícil e, até mesmo incoerente. Essa dissociação traduz um pensamento fragmentado e dicotômico, fruto de um legado secular:o paradigma cartesiano-newtoniano e a visão judaico-cristã, típico de nossa cultura ocidental.
É uma herança transmitida, de geração em geração, cujas contribuições fundamentais são: a perspectiva de um corpo separado do espírito; a valorização da dimensão espiritual em detrimento à condição corpórea humana; a apologia da razão e do intelecto; o corpo como fonte de impurezas, quase como um impedimento à vida espiritual, pois “a carne é corrupta”; o desprezo do corpo, por conseguinte, das sensações e do prazer sexual, fator básico gerador de culpa e vergonha.
O maior dilema da humanidade está na fragmentação, pois dividimos, dissociamos, separamos toda e qualquer experiência. Vemos a espiritualidade como algo da ordem do superior, localizada na cabeça e/ou acima dela, em contrapartida colocamos a sexualidade na esfera do inferior, situando-a da cintura para baixo. Percebemos a espiritualidade como algo que está além, fora do corpo, e a sexualidade algo “carnal” (significando estar no corpo).
Esquecemo-nos que estamos Encarne, que somos seres humanos encarnados; será que a espiritualidade seria algo da ordem do desencarnado? Obviamente que não!
Algumas tradições místicas propunham a supressão da atividade sexual e o uso de uma série de técnicas, que vividas num contexto próprio e sob orientação de um mestre, favoreceria a ascensão da energia para os centros energéticos superiores. Contudo, o que era colocado como opção de renúncia, foi distorcido, passando a ser um dogma, uma norma rígida, calcada numa visão moralista e preconceituosa.
A burocratização da espiritualidade e da sexualidade, somada às questões de ordem social, econômica e higiênica nos levou à vivência distorcida da sexualidade, e, por conseguinte, da nossa condição corpórea.
“Se você perder o corpo, estará precisando de um ismo.”, afirma Morris Berman. Isso quer dizer que quando não sentimos mais a realidade pulsante da vida, confiamos exclusivamente na nossa razão. Criamos, assim, certezas intelectuais, grandes verdades, e sem perceber, nos tornamos prisioneiros delas. Ficamos presos à ideologias, dogmas, verdades, que, em si, são fortes substitutos da sensação básica de vida.
Vários sábios e estudiosos afirmam que tanto no orgasmo como na experiência mística há um senso de comunhão com as forças superiores do universo. Portanto, torna-se fundamental libertamo-nos da visão distorcida , de que a sexualidade é algo impuro, inferior, sujo e perigoso.
Ao vivermos conscientemente no corpo, resgataremos a experiência do pulsar cósmico universal – micro e macro cosmos.
Teremos a chance, portanto, de transformar profundamente a nossa relação com o Universo e a Vida. Poderemos receber a sabedoria que existe em nós – “e o verbo se fez carne” – e não mais precisaremos de nos apoiarmos em verdades externas.
Confrontamo-nos com o 1º desafio: reconhecermo-nos como seres corpóreos e o corpo como algo sagrado. Em seguida, emerge o 2º desafio: integrarmos a espiritualidade na nossa dimensão física e percebermos a sexualidade como algo divino. Assim, toda e qualquer experiência passa a ter a conotação de sagrado.
Ao nos dispormos viver os desafios da integração, da unidade, temos a chance de celebrarmos a vida, de venerarmos a existência, de habitarmos o nosso corpo (“morarmos no templo”), de amarmos e sermos amados. A espiritualidade, dissociada da sexualidade, é abstração, ficando a sexualidade como algo puramente física. Essa separação nos distancia do nosso centro – o coração: o ponto de conexão entre as 2 extremidades do corpo.
É através do pulsar do nosso coração e de nossas vísceras que experimentamos o calor e a maciez da dimensão amorosa, além disso é pela experiência sexual que vivemos a força cósmica, pois a presença da energia é vivida de forma bem direta.
O corpo é o templo que acolhe a energia vital, cujo centro é o coração e não o cérebro, nem os genitais. Logo, somente, com o corpo e através dele que celebraremos o ato de amor, seja sexual ou não.
Sexualidade é a possibilidade de viver o encontro, a fusão de duas pessoas na dança da vida, de experimentamos a pulsação quente do existir. Assim sendo, o ato sexual passa a ser um ato sagrado, um ato de amor. E, o amor é a liga que nos une e nos dá a chance de sobreviver.