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Devido ao grande interesse dos leitores de meus artigos, sobre os padrões de co-dependência, resolvi escrever este texto de forma a esclarecer melhor os padrões desta patologia.
Isso é muito importante para que possam conhecer mais a fundo e possivelmente identificar-se a si próprio ou a um parente ou pessoa de suas relações, e se for o caso, possa buscar ajuda profissional para confirmar a necessidade e iniciar seu tratamento.
Quero antes de tudo reafirmar o que sempre digo; não existe a auto-avaliação quando falamos de doenças mentais, pois nestas a nossa própria concepção de si mesmos está alterada e portanto, ficamos incapacitados de fazer tal julgamento.
É importante que procure ajuda de um profissional de saúde mental para fazer o diagnóstico e tratar o problema devidamente.
Como dependência, ou adicção (termo técnico), designamos comportamentos dependentes como a álcool, drogas, fumo, e outros comportamentos compulsivos como os dependentes ao sexo, ao jogo, às compras, etc.
Geralmente o adicto descreve sentir um “vazio” que em momentos de grande ansiedade sente a compulsão em buscar o objeto de sua dependência, como que para preencher-se interiormente, e assim sanar a tensão.
Então, neste momento, exercer o ato (drogar-se, jogar, alcoolizar-se, amar, fazer sexo, etc), torna-se uma obsessão pela angústia que sente por não o fazer, e esse desconforto é tão grande como se disso dependesse sua própria vida.
É comum chamarmos de co-dependencia, a dependência de um familiar de um adicto, (um dependente qualquer).
Devemos lembrar que a co-dependência é sempre uma dependência “ao outro”, e é o que quero tratar neste texto.
Porém, quero fazer um “parêntese” neste ponto do texto, para alguns esclarecimentos sobre o termo dependência ou co-dependencia.
A “dependência emocional” é um termo leigo, coloquial, que designa pragmáticamente a patologia na sociedade, na psicologiao termo correto é “adicção”.
Lembrando que o diagnóstico psicanalítico (minha área) se faz de forma estrutural e dinâmica, ou seja, entendemos que cada pessoa tem suas características próprias e pessoais e por isso buscamos entender em cada individuo, o conjunto de expressões que o constituem e o sustentam como sujeito.
Assim, no nosso entender, um dependente ou co-dependente tem suas motivações para tal, diferentes de outro indivíduo na mesma situação, pois cada um tem sua história de vida, suas capacidades e necessidades individuais, seu contexto sócio-cultural e seus relacionamentos dinâmicos próprios.
E buscamos neste sujeito, entender como se sustentam seus “núcleos” obsessivos, fóbicos, maníacos, depressivos, etc.
Além do fato de que quando rotulamos alguém, ou sua patologia, estamos colocando o sujeito num “invólucro” e portanto num paradigma.
Deixando este esclarecimento em adendo, voltamos ao tema; a co-dependencia sempre aparece como uma dependência à outras pessoas dependentes, ou seja, uma situação na qual, por algum motivo interior e pessoal, o indivíduo sente-se preso ao dependente, e mesmo sabendo (conscientemente) que não está sendo saudável essa convivência para si, não consegue se afastar e voltar-se para sua vida pessoal, colocando-se em segundo plano, e assim, vivendo em função do dependente.
Isso acontece muito quando falamos em drogados, viciados, compulsivos de toda ordem, ou seja, como já disse, o co-dependente geralmente é dependente de um dependente.
Quando temos um drogadicto (viciado em drogas) como familiar muito próximo, (ou um alcoolista por exemplo), nossa vida é afetada, ou melhor de toda a família.
E por mais que cada familiar leve na brincadeira e pense “um dia isso acaba”, saiba que as repercurssões são muito profundas e certamente vão acompanhar os membros da família por toda a vida.
O ponto principal na co-dependencia é o fato de que apesar de sofrermos muito não conseguimos “tocar” nossa vida naturalmente, pois nos sentimos na obrigação de viver em função do dependente.
Por isso, dizemos que quando um membro da família é dependente, a família está doente ou seja, é uma família co-dependente.
Isso porque todos os membros da família são afetados pelo fato e têm, cada um, sua parcela de ansiedade, de culpa, de angústia que se manifesta num conjunto dinâmico, tendo como pivô o dependente.
Mas não é só isso, o co-dependente também é o que se torna escravo de outra pessoa (do dependente no caso), e se sujeita a abusos de toda ordem para manter o relacionamento.
Na verdade ele até tem consciência de que o relacionamento não é saudável, mas não consegue sair desta situação, isso porque as motivações que o levaram a tal posição são inconscientes.
O assunto é extenso e me proponho a esclarecer mais sobre isso, dando continuidade a este texto em uma série que se inicia nesta primeira parte .
Quero atentar também para o fato do dependente ser do tipo dependente emocional e depender do próprio indivíduo que se sente co-dependente, havendo uma simbiose entre os dois, mas de uma forma doentia trazendo angústia e sofrimento para ambos.
Mas de momento, quero somente para terminar esta primeira parte, alertar também para o fato de que cada um de nós têm um grau de dependência, que é até natural, e esperado num ser humano saudável, e isso é importante nos nossos relacionamentos afetivos mais próximos, mas também temos um grau de “Autonomia” ( e que também não pode ser demasiado ) que nos mantém saudáveis, isso não quer dizer ser auto-suficiente pois somos um ser social e precisamos do convívio com o outro, dos estímulos e afetos trocados nos relacionamentos, no entanto, a dependência traz uma deterioração de sua Autonomia enquanto ser humano, não somente quando é uma dependência é a algo, mas também, “ a alguém”.
Falaremos mais no próximo texto...